sábado, 27 de setembro de 2014

Ser mãe é mais que uma profissão !

Eu sempre trabalhei. Desde os meus 14 anos de idade, eu trabalho.
Na época em que tava todo mundo de namoradinho, indo pra baladinha, shopping, cinema eu estava trabalhando.
Meu primeiro emprego foi o melhor emprego da minha vida.
Eu trabalhava aos finais de semana devido à escola. Acordava as 4 hs da manhã e os compadres da minha mãe e sua filha me pegavam para irmos para a lida.
Eu trabalhava em um sacolão. Em uma rotisserie, pra ser mais específica, dentro de um sacolão.
Ganhava pouquíssimo. Cerca de 40 reais por fim de semana. 
Lá eu aprendi a atender bem um cliente, noções de higiene para um estabelecimento de comida, aprendi a fatias frios, aprendi a embalar frios, aprendi TUDO sobre queijos. Aprendi como armazená-los, a temperatura ideal para cada queijo, os sabores, com que vinhos combinam, etc etc etc.
Com apenas 14 anos tinha vezes que ficava sozinha atendendo na rotisserie, pois os donos tinham duas lojas e às vezes me deixavam em uma e a filha deles em outra enquanto faziam compras.

Ganhava pouco, trabalhava bastante mas com certeza foi o emprego que mais agregou na minha vida. Aprendi a ter responsabilidade. 
Depois disso, nunca mais parei. Sempre arranjava alguma coisa pra fazer.
Uma época fui até uma oficina de costura e pegava peças para fazer acabamento em casa. Ganhava cerca de 2 a 3 reais por peça bordada. Passava a tarde fazendo isso, depois da escola. Assim tinha meu dinheirinho para comprar minhas revistinhas do Backstreet Boys, pagar meu sorvete com as amigas sem pedir pros meus pais.
Eles nunca se negaram. Mas é da minha natureza ser independente. Ou pelo menos era...Não sei.
Aos 18 anos entrei em uma empresa, onde conheci meu marido.
Saí de lá quando a Gi nasceu, pois eu não queria deixá-la na creche. A Gi tinha refluxo gastroesofágico e isso me preocupava muito. Na minha opinião, ninguém cuidaria como eu.
Quando ela completou 9 meses, fui trabalhar. Consegui passar quase 3 anos na empresa, mas toda vez que a Gi adoecia eu enlouquecia. Troquei de babá 6 vezes. Sim, 6 vezes. Por motivos diversos, inclusive maus tratos.
A gota d´água foi quando a Gi teve um problema nos rins e a minha líder na época me chamou para um feedback bem grosseiro dizendo que eu teria que escolher entre a empresa ou ficar em casa cuidando da minha filha. O que acham que eu escolhi???
A empresa me demitiu.

Depois disso, tentei trabalhar em 2 empresas mas sempre me deparava com o mesmo problema. Eu tenho um problema sério, seríssimo em delegar. Eu não consigo pedir pra ninguém fazer nada por mim. E deixar minha filha para os outros cuidarem era o fim. Eu não conseguia me concentrar no trabalho.
Foi quando abri a loja. 
A experiência anterior com atendimento ao público na rotisserie me ensinou a lidar com pessoas, mas não a gerir. Então a loja quebrou. 
Depois disso trabalhei Home Office, fiz outras coisas, me especializei em micropigmentação e design de sobrancelha e quando estava pronta para entrar para trabalhar em um estúdio de micropigmentação, descobri que esperava o Antônio.
Enfim, estou em casa. Sem trabalho. E por que decidi escrever tudo isso?

Porque tenho visto muitas mulheres, como eu, que optaram por passar um período em casa cuidando de suas crias serem apedrejadas. Taxadas de preguiçosas, de estar se "escorando" nas costas do marido, de viverem no século passado, acusadas de não querer "crescer na vida", entre outros.
Minha mãe não trabalhava fora. Ela voltou a trabalhar eu já estava com 15 anos. Ou seja, eu já tinha meu emprego. Foi quando ela viu que eu não era mais um bebê. Minha irmã tinha 20 anos.
Ela passou 20 anos da vida dela cuidando da nossa família. Ouvi muitas e muitas vezes em festas familiares minha mãe ser acusada de diversas coisas.
Mas a minha mãe foi uma mãe com M maiúsculo.
Minha mãe acompanhou nossa infância e adolescência de perto. Estudávamos em um período e no outro ela nos levava para atividades extra curriculares como ginástica olímpica, natação, etc. Consultas médicas estavam sempre em dia, dentista, reuniões escolares. Minha mãe tinha um relacionamento pessoal com todos os meus professores. 
E enquanto as pessoas falavam que ela não ajudava meu pai, ela estava nos dando aquilo que havia de melhor.
Quando eu entrei na primeira série, eu já sabia ler e escrever. Quem me ensinou? Minha mãe. Com 5 anos ela comprou um caderno de caligrafia e começou a nos alfabetizar em casa. A professora Vera Lúcia, da primeira série, simplesmente não acreditou quando no primeiro dia eu li um texto na cartilha sem gaguejar. E eu nunca tinha ido pra pré-escola.
Meu pai NUNCA quis que minha mãe trabalhasse. Pelo contrário, quando ela cogitava diante de alguma dificuldade, ele sempre dizia que estava em paz na rua para trabalhar pois sabia que ela estava em casa cuidando das filhas. E que se ela tivesse que sair, não seria mais a mesma coisa.

É óbvio que nos dias de hoje, 90 % das mulheres não pode fazer isso. Tem mulher que sustenta a casa sozinha. Tem mulher que precisa trabalhar porque o salário do esposo não dá. Eu não estou aqui para levantar a bandeira que mulher tem que ficar em casa. Eu vou chegar onde quero...
Eu só queria entender porque as mulheres que podem e que escolhem fazer isso são apedrejadas pelas outras mulheres? Que estufam o peito e se dizem guerreiras e trabalhadoras por trabalharem e serem mães. O fato de não trabalhar fora, de levar minha filha na escola, de buscá-la na escola, de estar com ela o tempo todo, me torna menos mãe?
É como se guerreiras fossem só aquelas que trabalham fora, chegam tarde e ainda tem tarefas a fazer. Admiro muuuuito pois não é fácil. Não é fácil trabalhar o dia todo, pegar ônibus lotado, trem, metrô e depois chegar em casa, lavar roupa, estender, dar banho em criança, fazer jantar, ser esposa, etc etc etc.
Só que ficar em casa não é fácil também. É renúncia. É você dizer não pra sua carreira profissional por alguns anos pra cuidar de alguém. É ser taxada disso ou daquilo. É ouvir um "Quando você vai trabalhar pra ajudar seu marido?" ou "Também, você não trabalha, né?".
Ficar em casa é ajeitar toda a casa, fazer a comida, esperar a criança chegar da escola, dar banho, fazer lição, levar para as atividades extra curriculares, dentista, pediatra, fazer jantar, esperar o marido chegar cansado e muitas vezes estressado do trânsito e do trabalho. É ser psicóloga, amiga, professora. 
Ficar em casa é não ser mais a Roberta. É ser a mãe da Giovana e do Antônio. É se anular completamente para ter a certeza que seus filhos estão bem cuidados.

Se sinto falta de trabalhar? Muita. 
Se vou trabalhar quando o Antônio nascer? Meu marido já pediu para eu ficar um ano em casa. Eu sei que não aguento e vou arranjar minhas coisinhas pra fazer. Meus bordados, meus doces, bolos pra vender, enfim...
Se pretendo voltar a estudar? Óbvio !!
Só que hoje, na minha vida, a prioridade são os meus filhos. E eu queria saber onde está o erro nisso. Eu estou negando a minha vontade, o meu querer pelo bem deles. Eu acho que isso também é ser mãe, não? 
E pra quem diz que eu não ajudo meu marido..olha, ele não tem reclamado. Muito pelo contrário. Ele me agradece por estar renunciando pela nossa família. E ouvir essa gratidão é muito recompensador. É quase como receber uma promoção do chefe...rs

Ficar em casa estressa, chateia, cansa. Sim, cansa. Porque é todo dia a mesma rotina.
Mas o que me conforta e me dá forças pra isso é lembrar do quanto minha mãe renunciou. E do quanto ela foi essencial para minha irmã e eu sermos as pessoas que somos hoje. Ela estava sempre por perto. Isso me trazia segurança.
Saber que eu ia chegar da escola, com a mochila pesada e ia encontrá-la na cozinha com o almoço na mesa era muito bom ! 
Ou então quando chovia na saída da escola e todos iam correndo com os cadernos na cabeça pra casa, eu olhava e lá estava ela do outro lado da rua com meu guarda-chuva. 
Ela ficou disponível. Minha mãe não é formada em nada. Ela não fez faculdade. Ela terminou o ensino médio encorajada por mim. Eu ia com ela pro supletivo, ajudava nas lições, nas equações. Era uma forma de retribuir o que ela fez por nós. Ela foi muito acusada. Muito julgada. Mas ela foi a melhor mãe que ela podia ser.
E quer saber? É isso que eu almejo pro meu futuro. Ser a melhor mãe que eu puder pra Gi e pro Toni.


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