terça-feira, 9 de setembro de 2014

Por que algumas mulheres gostam de contar histórias ruins sobre parto?

Na minha primeira gestação eu me recordo que trabalhei com uma pessoa que me assustou durante os 9 meses de gestação.
Todos os dias, quando eu falava algo de bom sobre a minha gravidez, ela vinha com uma história trágica dela ou de alguma conhecida.
Me recordo que um dia cheguei em casa chorando, passando mal, tremendo devido a uma história que ela me contou. Também, pudera...
Eu tinha 19 anos, não fazia ideia de como era um parto (nem normal, nem cesárea), estava cheia de dúvidas, medos e ficava o dia inteiro ao lado de uma pessoa que não tinha NADA de bom pra me contar.
Essa pessoa, em específico, é uma pessoa maldosa. E falo isso sem medo. Não sou de meias palavras. Ela tinha um prazer em me deixar assustada e tentar estragar meu momento.

Mas hoje eu voltei a pensar nesse assunto. Fui ao mercadinho perto de casa e conheço as funcionárias. Elas perguntaram o sexo do bebê e engatamos um papo. Claro, o assunto foi direcionado pro momento do parto que é o ápice da gestação.
Em outros tempos, teria ficado chocada com o que uma das meninas me contou. O parto dela foi traumático. Foi feita uma episio sem anestesia, sem o consentimento dela, ela levou vários pontos e disse que sofreu demais.
Eu ouvi muito atentamente e fiquei comovida com a história dela. 
E vim pra casa pensando...
É muito comum hoje em dia uma mulher chegar perto de mim, perguntar sobre a gestação e começar a contar uma história parecida.

E por que isso acontece? Salvo os casos em que as pessoas são mesmo maldosas, como minha ex-colega de trabalho, eu acredito que existe uma revolta de todas as mulheres que sofrem violência obstétrica.
A falta de informação faz com que muitas achem que é normal passar por tamanha humilhação e procedimentos desnecessários. E o que teria de ser um momento lindo, torna-se um trauma.
O sentimento de impotência, humilhação e total desrespeito faz com que essas mulheres desabafem com as grávidas que estão próximas. 
Mesmo que não saibam, mesmo que no momento em que estão desabafando não tenham tal intenção, é como se estivessem dizendo: "Por favor, não deixem que façam isso com você !".
Não fiquei assustada com o relato da minha conhecida. Fiquei triste.
E mais triste ainda quando ela me contou que sua amiga ficou 30 horas em trabalho de parto e, por fim, fizeram uma (desne) cesárea sendo que suas contrações já estavam super ritmadas, ela estava com 6 cm de dilatação e super favorável para o PN. Porém, os médicos tiveram pressa em retirar o bebê.

Eu agradeço a todas as pessoas pelos seus relatos tristes. Eles me fazem a cada dia mais levantar a bandeira do parto natural humanizado.
Tem uma amiga minha que está me chamando de louca, ainda mais quando disse que estou pensando em ter um parto domiciliar.
90 % dos partos são cesáreas e as doulas é que estão erradas? Nós é que somos loucas? Tem certeza?
Normal é tomar ocitocina sintética, fazer episio e tomar uns 23 pontos sem anestesia, SER OBRIGADA a parir em posição ginecológica (que é comprovadamente a posição menos apropriada a se parir devido ao alto índice de infecções em decorrência da mesma),ser submetida a tortura psicológica por parte de médicos e enfermeiros nada preparados. Gente, é isso que é normal? 
Então, sou anormal. Obrigada.

A cesariana é uma bênção quando necessária. Quando é para SALVAR a vida do bebê e da mãe. Mas fazer uma cesariana do nada? Marcar um dia pro bebê vir ao mundo porque o médico vai sair de férias, viajar, ou sei lá o quê?
Enfim...cada um tem o direito de pensar como quer mas eu acho que esses relatos tristes que ouço querem dizer alguma coisa.
Ninguém reclama do que está bom. E 90% das mulheres que ouço estão insatisfeitas com o tratamento que receberam nas maternidades de SP. E estou falando de públicas e particulares, hein?

O que eu mais ouço de doulas e enfermeiras obstétricas é "Eu sinto muito pela sua cesariana". Sim, eu também sinto muito. Sinto pela Gi. Por mim, eu sinto um pouco, afinal sofri. Mas sinto mais por ela. Que foi retirada prematuramente sem necessidade. Que não teve o contato com a minha pele assim que nasceu. Que foi separada de mim após o parto. Que foi mamar somente 8 hs depois de sair da barriga. Que teve seu cordão umbilical cortado antes que ele parasse de pulsar lhe causando desconforto respiratório. 
E sinto muito por milhares de bebês que estão passando por isso nesse momento enquanto seus familiares estão em alguma sala estourando champanhe comemorando sua chegada. 
E eu peço a Deus que essa cultura um dia acabe no nosso país e em tantos outros. Porque chegará um dia em que parir por via vaginal será enxergado como uma aberração. 



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